Trabalhar na Espanha

Você já pensou alguma vez em tentar encontrar trabalho fora? Mesmo que a idéia seja ir a outro país para estudar e, ao mesmo tempo, procurar uma atividade remunerada para ajudar a pagar as despesas da viagem. Na verdade, isso foi o que eu fiz, já que o plano inicial era fazer o mestrado na Espanha e, se tudo desse certo, o doutorado também. Essa história teve um final feliz, porque se o critério para que tudo desse certo era fazer o doutorado, tchan-tchan-tchan-tchan: já está feito! E, no meio do caminho, consegui algumas bolsas na universidade. E este é o tema de hoje:

Como conseguir trabalho na Espanha?

A resposta não é fácil. Poderia começar dizendo que depende das nossas prioridades, mas prefiro começar de outra forma: a experiência de morar, estudar e trabalhar fora é única. A probabilidade de encontrar duas histórias iguais é praticamente nula. Mas uma coisa é certa: conhecer mundo é uma vivência indispensável para ampliar nossos horizontes mentais, romper nossas próprias barreiras e conhecer os nossos limites. Aí é quando a gente descobre que o ser humano é igual em qualquer lugar do mundo, com seus problemas, ilusões, crenças, costumes, etc. Resumindo: morar fora ajuda (e muito) a conhecer a gente mesmo.

Em 2007, Madri ainda era um lugar cheio de oportunidades. De repente, a crise econômica começou a aparecer em todos os jornais. As pessoas começaram a gastar cada vez menos e a economia se estagnou. As empresas começaram a despedir os funcionários, as lojas começaram a fechar, as pessoas começaram a perder seus empregos antes tão estáveis e, conseqüentemente, perdiam o salário, a casa e a dignidade (em casos mais drásticos, também a vida). Este era só o início da queda. O buraco se transformou em um abismo de profundidade incomensurável. No meio da escuridão, a Espanha alcançou a taxa mais alta de desemprego: 27%.

Isso foi em 2013 e, como disse o presidente do governo, Mariano Rajoy, a crise já é coisa do passado. Não entendo muito bem o que significa a palavra «passado» no vocabulário do Rajoy. Será porque agora existe 26% de desempregados. Realmente, Dom Mariano, as coisas melhoraram demais da conta. No meu vocabulário goiano, entre 27% e 26%, a diferença é tão insignificante que a gente continua vendo as lojas fechadas, as empresas funcionando com um número mínimo de funcionários e as ofertas de trabalho são… inexistentes. Para comprovar o estado de saúde da economia espanhola, basta ir um dia a uma «Oficina de Empleo» para ver as filas imensas de gente de todas as idades tentando voltar ao mercado de trabalho. Pelo nome dá a impressão de que lá eles arrumam mesmo o emprego, né? Mas na prática só registram o número de desempregados.

Essa experiência eu também já tive. Depois das três bolsas que consegui na Universidad Rey Juan Carlos (URJC) – duas durante o mestrado e uma durante o doutorado – e dos quase cinco anos dando aula na Facultad de Ciencias de la Comunicación, me disseram que já não podia continuar. Mais ou menos 300 professores da URJC tiveram que abandonar o barco, o que definitivamente não ajuda a diminuir a taxa de desemprego desse país ibérico. Todas as universidades públicas estão em situações parecidas.

Neste exato momento, estou pensando na melhor maneira para enocntrar uma resposta para a pergunta incial: como encontrar trabalho na Espanha? Meus ex-alunos diziam que o jeito é ir para fora, mas eu continuo acreditando que a Espanha merece uma nova chance. Os empreendedores que estiverem dispostos a trabalhar de segunda a segunda e sem férias são bem-vindos. Além disso, convém ir preparando o seguinte:

1. Uma pasta cheia até não poder mais de todos os diplomas de especialização e mestrado, porque só uma especialização ou só um mestrado é pouco.

2. Todas as cartas de referência dos empregos anteriores. Se são de empresas multinacionais, melhor ainda. Agorinha eu explico o motivo.

3. Demostrar todos os conhecimentos possíveis de Internet e redes sociais aplicados ao mundo das empresas e da publicidade, como social media management, community management, product management, SEO, SEM, etc.

4. Outra pasta para os certificados de todos os idiomas possíveis e imagináveis que existam na face da terra. Porém, o mais importante é o inglês. Para ser sincera, é mais importante que o espanhol. Mas tem que ser aquele inglês impecável, quase materno. Aquele inglês que nenhum espanhol é capaz de pronunciar (nem de entender). Por isso é importante a experiência de trabalho numa multinacional. O contraditório é que Rajoy e seus ministros dão um valor exagerado ao inglês quando nem eles mesmos são capazes de pronunciar um simples «nice to meet you». Nem são capazes, nem tem nenhum interesse em aprender. Mas a mensagem é clara: sem inglês não há emprego (esta frase pode ter muitos sentidos).

Caríssimos leitores, acabo de revelar o segredo de como conseguir trabalho na Espanha. No meu caso, para ser professora universitária, é indispensável o doutorado tanto quanto o domínio da língua inglesa. Se não souber espanhol, não tem problema. Depois de tudo, o principal objetivo para 2014 só pode ser esse mesmo: encontrar trabalho na Espanha!