O segredo do orientador

Por quê é tão difícil agradar o seu orientador de tese? Se alguém tem uma resposta para esta pergunta, por favor, deixe um comentário.

Depois de tanto trabalho para definir o tema da tese, procurar conceitos, estabelecer categorias, tipologias e tudo mais, continuo escutando um «está mal» do meu orientador, acompanhado de um «no entiendo lo que quieres investigar». Menos mal que uma amiga que estava do meu lado quando ele me disse isso me consolou dizendo que sua orientadora também costuma dizer a mesma coisa.

Hoje não vou fazer nada. Não vou pesquisar, nem ler, nem trabalhar com a tese. Tirei o dia de folga. Vamos ver se as idéias tomam um novo rumo depois dessa sacudida. Ufa!

Totalmente desatualizada

Já sei que ando totalmente desatualizada com relação ao Blog, mas tenho uma boa justificativa. A correria está brava! Ser pesquisadora exige dedicação exclusiva. Quem diz que é perfeitamente possível fazer doutorado e trabalhar ao mesmo tempo, certamente não dorme mais que 4h por noite. Estou num projeto de pesquisa com meu orientador e, além disso, fazendo a minha própria investigação para a tese, que são coisas parecidas, mas, na hora do «vamo ver», são completamente diferentes.

Para quem estiver pensando em fazer doutorado, como já havia publicado em outro post, deve pensar na possibilidade de um financiamento, ou seja, uma bolsa de estudos. Nem que seja para parte da investigação, mas que tenha tempo para ler, pesquisar, ler, pesquisar, ler, pesquisar e dormir, claro, se não o cérebro não rende!

Graças a Deus, consegui uma bolsa de formação em docência e pesquisa na universidade onde fiz o mestrado. Meu orientador moveu os pauzinhos e, por fim, em setembro, publicaram o edital. Só com o edital não resolveria o problema, porque outras pessoas também podiam pedir a bolsa e, quem sabe, teriam notas melhores que as minhas. Enfim. Estive um mês na incerteza até que, finalmente, publicaram os nomes dos que pediam a bolsa e, por incrível que pareça, fui a única! Não precisei competir com ninguém. Incrível! E eu que sempre estava reclamando, dizendo que nunca ia conseguir uma bolsa, e olha só! Que alegria!

Isso significa dinheirinho, mas também significa bastante trabalho. De segunda a segunda, não faço outra coisa além de estudar, estudar e estudar. Comecei a dar umas aulinhas também, porque faz parte das exigências da bolsa. Cada dia que entro na sala de aula e vejo as carinhas dos alunos, tenho absoluta certeza de que este é o meu caminho. Escolher nosso destino profissional não é nada fácil e às vezes demora muito. ¡Hay que tener paciencia! Paciência é o segredo.

Vida de doutoranda: quarta parte

Uma das partes mais importantes da tese é o marco teórico. Para dizer que uma coisa é assim e não de outra maneira, é preciso justificar quinhentas vezes. Nesta parte do trabalho, nada pode sair da nossa boca sem que exista um embasamento teórico que sustenta o que estamos defendendo. É a parte mais trabalhosa, porque é extremamente teórica e depende de todas as leituras possíveis e imagináveis. Leva tempo e paciência.

Na hora de escolher os livros e artigos que farão parte do marco teórico, é super importante ver as datas de publicação. Quanto mais recentes, melhor, embora também seja necessário citar os clássicos. Afinal, clássicos são clássicos e nunca vão deixar de ser. Se uma pessoa faz um doutorado em «x», sobre esse tema «x» deverá conhecer os clássicos e, ao mesmo tempo, o que há de mais recente.

Estou nesse ponto da investigação. Haja artigos! Às vezes a gente tem que ler um monte de páginas para conseguir uma citaçãozinha de meia linha. Fazer o quê? É parte do trabalho e a bibliografia da tese deve ser respeitável.

Como sabemos que já temos um bom embasamento teórico? Boa pergunta. Meu orientador disse que é quando as teorías que estamos lendo começam a repetir conceitos e já não aportam nada novo. Espero que essa parte chegue logo!!!

Vida de doutoranda: terceira parte

Uma coisa muito importante e que é talvez a primeira que devemos levar em consideração na hora de fazer um doutorado: qual será minha fonte de financiamento enquanto eu estiver fazendo a pesquisa e escrevendo a tese? De estudos, não se vive. A própria pesquisa implica em gastos. Temos que imprimir um monte de textos, xerocar artigos, comprar livros, etc. Por mais que a gente estude numa universidade pública, vai ter que gastar din-din, não tem escapatória.

Evidentemente, o ideal seria conseguir uma bolsa de estudos, daquelas que depositam todo mês uma quantia «x» de dinheiro na conta e nos proporciona uma vida digna sem ter que trabalhar. Dedicação integral à tese significa defensa em menos tempo. Mas isso é para uma minoria privilegiada, da qual não faço parte. No meu caso, tenho que trabalhar para conseguir o financiamento para a pesquisa. Uma alternativa prática, pela qual eu optei, é trabalhar dentro da própria universidade. Estar perto da biblioteca, como é o meu caso, motiva a gente a ter mais contato com a bibliografia que estamos buscando.

É bom ficar atento em todas as oportunidades de bolsa de trabalho ou de pesquisa dentro da uni. Quando não temos uma super bolsa de estudos, o jeito que tem é trabalhar. E esse é o momento de tentar manter contato com os professores, conhecer como funciona o departamento ao que estamos vinculados e, quem sabe, publicar algum artigo com o orientador. Currículo! Quanto mais diverso, melhor.

Vida de doutoranda: segunda parte

Tem que ler muito. Sim, isso é verdade. Mas ler sobre quê? Mmm… Digamos que essa parte é uma das mais complicadas: definir o tema da tese. Deve ser uma proposta de estudo original. Das duas, uma: ou a gente parte de uma nova perspectiva de um tema bastante estudado, ou procuramos algo pouquíssimo estudado. No primeiro caso, é mais difícil ser original, mas pelo menos encontramos muita bibliografia sobre o assunto. No segundo caso, é muito mais fácil ser original, mas a escassa bibliografia pode ser uma grande limitação para a pesquisa.

A melhor forma de decidir qual vai ser o tema da tese é buscar leituras sobre aquilo que a gente gosta de estudar. No meu caso, gosto de ler coisas sobre comunicação e internet. Então, para definir o tema (que ainda não sei direito qual vai ser!), estou lendo todas as novidades sobre comunicação através da internet, blogs, flogs, etc. São temas relativamente novos, mas já tem muito escrito sobre isso. Copio um trecho daqui, um trecho dali, vou remendando tudo o que tenho, como se fosse uma colcha de retalhos, até que começa a fazer sentido.

Meu orientador foi quem sugeriu que eu fizesse dessa forma, como se fosse escrever um trabalho descritivo, tipo: «como é a comunicação na internet?». O tema da tese não vai ser esse, mas é só até achar o fio da miada. O orientador exerce um papel fundamental nesse período de decisão e é preciso saber escolher bem o professor que vai nos acompanhar na trajetória do doutorado. Deve ser uma pessoa acessível, que demonstre domínio do tema que a gente gosta e que tenha boa relação com os demais professores e administradores da universidade. Deu pra perceber que não pode ser qualquer pessoa, né? Nesse sentido, tive muita sorte ao escolher um excelente orientador.

Vida de doutoranda: primeira parte

Não é fácil. Tá, isso não é novidade. Mas, por outro lado, é bastante divertida a atividade de investigar. No fim das contas, é um trabalho gratificante («demanding, challenging and rewarding job» para praticar um pouco de inglês!), quando a gente passa dias e dias procurando um livro ou um artigo que publicaram sobre um tema que a gente precisa ler e, no meio do caminho, vamos encontrando um monte de outros livros e artigos talvez mais interessantes que aqueles que procuramos.

Fazer doutorado é uma decisão que a gente precisa tomar sem pensar muito na trabalheira que isso vai gerar em nossas vidas. Não somos só nós, estudantes, que fazemos doutorado. A família, os amigos, o namorado (ou namorada) também, porque não é sempre que podemos sair para ver um filme, fazer compras, dar um passeio, viajar nos feriados prolongados, etc. Ou seja: doutorado é um sacrifício em conjunto.

Algo muito importante é saber idiomas. Querendo ou não, tem que saber inglês, porque os melhores artigos estão publicados em revistas anglo-saxônicas e não adianta ficar esperando que alguém tenha a boa vontade de traduzi-los, porque não podemos esperar. É uma corrida contra o tempo, senão o tema escolhido fica velho, ultrapassado, vence, mofa. E, enquanto estamos escrevendo a tese, com certeza existirá um monte de gente estudando temas mais atuais que os nossos.

Depois do inglês, vai depender de cada área de estudo. Em comunicação, é importante saber (ou pelo menos ler em) espanhol e francês. De francês não sei absolutamente nada, mas pra ler até que não é tão complicado. Ou seja: temos que nos virar para dar conta de ler muito em muito pouco tempo.

Muitas novidades

Ah, que pena que quase não tenho tempo para atualizar o blog. Queria muito poder escrever todas as semanas, pelo menos, contando coisas daqui da Espanha e as curiosidades do dia-a-dia de uma brazuca em terras taurinas. Peço desculpas aos amigos que sempre passam por aqui esperando encontrar um «post» novo. É que a vida de doutoranda não é fácil.

Pois é, comecei o doutorado. Com uma matéria pendente do mestrado, mas tudo bem! Agora em junho entregamos o trabalho que falta e ficamos livre disso de uma vez. Sim, o verbo é mesmo no plural: «entregamos». Porque a profa. não foi nada camarada com a gente e ninguém pôde terminar o mestrado em fevereiro, mês previsto para que acabassem as aulas. Por conta de uma professora – umazinha! Eita nós!

O negócio da matrícula no doutorado foi meio corrido. Decidi de última hora, porque surgiu a oportunidade de pedir uma bolsa muito boa. Para isso, tinha que estar matriculada. Em dezembro, preenchi a papelada – da matrícula e da bolsa -, mas não deu em nada. Bom demais para ser verdade: 1200 euros ao mês durante quatro anos. Fala sério! Um sonho. Mas como a matrícula já estava feita, agora tem que começar. E pra valer!

Já não trabalho mais na secretaria da universidade. Pedi uma bolsa de pesquisa para trabalhar com meu orientador e essa deu certo. O problema é que a bolsa da secretaria não era compatível com outro trabalho, então tive que deixar meu companheirinhos da gestão de alunos. Foda é que só foram me avisar que as bolsas não eram compatíveis depois de eu ter trabalhado durante o mês de fevereiro nos dois lugares. Pergunta se me paragam a bolsa da secretaria relativa ao mês de fevereiro! Tá pensando que as coisas são fáceis? Que nada! No início de março me ligaram para dizer que eu tinha que escolher uma das bolsas. Caso contrário, não me pagariam nenhuma. Como me interessava muito trabalhar com pesquisas, deixei a secretaria e fiquei sem o rico dinheirinho de fevereiro. Menos mal que me pagaram a bolsa de pesquisa.

No mais, vai indo tudo muito bem, graças a Deus. Estou muito mais adaptada com a vida na Espanha. Hoje, quando vejo as coisas que escrivi aqui no blog, contando minha experiência com a burocracia espanhola e as dificuldades que vivi como estrangeira, tudo parece um sonho de barriga cheia. Estou super tranqüila agora, com o NIE renovado até outubro e depois veremos o que faço em relação a isso. Até porque não posso renová-lo como estudante se sou doutoranda. É mole? Dizem que é porque o doutorado do plan Bolognia não exige aulas presenciais, o que significa que eu poderia muito bem estar no Brasil e fazendo doutorado numa universidade espanhola. Só que eu queria mesmo era ficar aqui para praticar bastante o idioma, já que vou ter que defender a tese em espanhol. Vamos ver no que dá!